Setor de transporte oferece diversas oportunidades para reaproveitamento de recurso hídrico, que passa por grave crise no Brasil.
Neste momento em que o Brasil vive uma grave crise de falta d´água, com rodízio no uso e indicação de racionamento em algumas regiões, pensar em alternativas inteligentes para a economia do recurso torna-se ainda mais urgente. No setor de transporte, muitas empresas já investem em sistemas de conservação e reúso, contribuindo, não só para o desenvolvimento sustentável, como para a redução dos custos. O potencial de economia é grande e ainda pode ser mais explorado, com a obtenção de resultados bem positivos, conforme analisa o diretor-presidente do Cirra (Centro Internacional de Referência em Reúso de Água) e professor titular da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), o engenheiro Ivanildo Hespanhol.
“Grandes oportunidades para o reaproveitamento estão na lavagem de ônibus, caminhões, trens e aeronaves, por meio de sistemas que tratam a água e fazem a captação de chuva. Hoje, temos tecnologia para o tratamento. Podemos, por exemplo, tratar o esgoto e torná-lo potável”, diz Hespanhol. Ele explica que, para a reutilização na lavagem de veículos, é necessário fazer o tratamento adequado para não ocorrer corrosão na pintura, perda de brilho nem outros problemas.
A CNT, por meio do Despoluir – Programa Ambiental do Transporte, vem incentivando as empresas que atuam no setor a investirem em gestão ambiental, implementando medidas que contribuem para o desenvolvimento sustentável e também para a redução de custos. Neste ano, haverá um foco grande nas práticas de reúso de água.
No caso de empresas de ônibus, o professor estima que a economia média pode ser em torno de 50% a 60% dos custos com a água. Mas, dependendo do sistema, se forem utilizados meios mais avançados de tratamento, é possível ultrapassar esse índice. De acordo com Hespanhol, o investimento vale a pena e, de forma geral, o período de retorno é por volta de três anos.
Em alguns casos, até mesmo medidas simples podem contribuir para economizar o recurso. Na última edição do Prêmio CNT de Jornalismo, no final de 2014, uma das matérias finalistas da categoria Transporte e Meio Ambiente mostrou que uma empresa de ônibus do Espírito Santo passou a economizar 1,5 milhão de litros de água por ano a partir da ideia de um motorista. Ele percebeu que a água do ar-condicionado era canalizada para fora do ônibus e sugeriu à empresa que criasse uma forma de reverter esse recurso desperdiçado para o reservatório do para-brisa. Os mecânicos emendaram uma espécie de PVC, levando a água do ar para o para-brisa. Mesmo com esse reaproveitamento, ainda sobrava o recurso. A alternativa foi fazer o reaproveitamento no banheiro do veículo. “Uma ideia tão boa. Havia desperdício e ninguém tinha pensado nisso”, disse um funcionário da empresa.
Ônibus: empresa de Joinville consegue economia de 80%
No Sul do Brasil, em Joinville (SC), a Gidion Transporte e Turismo Ltda, que atua no segmento de transporte coletivo urbano e fretamento, implantou um sistema de reaproveitamento de água da chuva em 2005 que permite lavar todos os 295 ônibus da empresa. Esse sistema é composto por calhas na cobertura da garagem, por onde é feita a captação e o bombeamento para os reservatórios. Juntos, eles têm capacidade de armazenamento para 120 mil litros. A água passa por um processo de tratamento e retorna às máquinas de lavagem de ônibus. Parte do recurso utilizado na lavagem volta a ser tratado novamente.
Por mês, a empresa gasta cerca de 2,6 milhões de litros de água para fazer em torno de 8.850 lavagens de veículos. Com a captação da água da chuva e com o reúso, é possível economizar 80% desse total, o que representa cerca de 2,1 milhões de litros e aproximadamente R$ 13 mil mensais. “É claro que essa não é uma economia direta, pois há custo de manutenção do sistema e do investimento. Mas os resultados são muito positivos”, diz o gerente de operações, Edmilson A. Viana.
O projeto representa 80% da demanda das lavagens de ônibus. É uma economia muito grande”, afirma o gerente de operações da Gidion. (Foto: Gidion/divulgação).
Fonte: Revista CNT Transporte Atual – 2015/233